É já do conhecimento comum que a ilha Terceira tem uma gastronomia típica muito rica e variada, e como tal, não podia faltar a doçaria conventual.

A cidade de Angra sempre foi procurada por diversas ordens religiosas para aqui estabelecerem os seus conventos. Atualmente, ainda como função de convento, existe o Convento de São Gonçalo, o mais antigo de Angra do Heroísmo e um dos maiores dos Açores. Por sua vez, o Convento de São Francisco, o Convento dos Jesuítas e o Convento da Esperança albergam entidades públicas do Governo.

A doçaria conventual caracteriza-se pelo uso em grandes quantidades de açúcar e gemas de ovos. Mas nem sempre foi assim. Apenas a partir do século XV é que o açúcar chega aos conventos com fartura, trazido da ilha da Madeira onde era cultivada a cana-de-açúcar, vindo então substituir o mel como adoçante. É nesta época que a doçaria conventual ganha notoriedade. Portugal sempre esteve fortemente ligado à produção avícula, sendo nos séculos XVIII e XIX o maior produtor de ovos da Europa. Como tal, havia acesso a uma grande quantidade de ovos por parte dos conventos, principalmente das gemas, uma vez que as claras eram usadas para purificar o vinho branco na produção e para engomar os fatos de pessoas endinheiradas. Também se crê que as próprias freiras usavam as claras para engomar o seu hábito e para produzirem as hóstias a utilizar em certos doces.

É graças a esta abundância, tanto de açúcar como de gemas de ovos, que surge a doçaria conventual, onde, nas cozinhas dos conventos, as freiras usaram a sua inspiração e imaginação para criar uma enorme variedade de doces, que eram posteriormente nomeados com nomes relacionados com a sua fé e vida conventual.

É devido à situação financeira vivida nos conventos aquando da extinção de ordens religiosas em Portugal em 1834, que as receitas começam a ser conhecidas pelo povo em geral. As freiras ensinavam os doces às mulheres criadas nos conventos, e para angariação de fundos para sustento dos conventos, vendiam os doces, tendo os mais simples ficado conhecidos pela população e passada de geração em geração.

E a ilha Terceira não foi exceção!

A ilha Terceira, é, porventura, a ilha onde a doçaria conventual apresenta mais variedade e qualidade, muito devido aos conventos de São Gonçalo e da Esperança. No convento de São Gonçalo foram criadas receitas como o Alfenim e o Pudim Conde da Praia. Contudo, algumas receitas foram sofrendo alterações, devido ao cariz económico de quem as realizava (no meio rural a doçaria era mais modesta, limitada a épocas festivas) e pela influência exterior, como é o caso da classe burguesa que, com as Rotas das Índias, usava especiarias e mel-de-cana nos seus doces.

Atualmente, é possível encontrar doces conventuais em pastelarias nas ruas da cidade de Angra do Heroísmo. Duas das mais conhecidas e a não perder são O Forno e o Athanásio. Nestas pastelarias é possível degustar os doces conventuais Cornucópia, Pudim Conde da Praia, Rebuçados de Ovos, Torresmos de Cabinho, Charutos, Feiticeiros, Hóstia de Amêndoa, Torresmo do Céu, Alfenim, entre muitos outros.

 

Fotografia de Laura Almeida.

 

Na imagem acima podemos encontrar o Conde da Praia (canto superior direito), os charutos (abaixo do Conde da Praia), os torresmos de cabinho (canto inferior direito) e os feiticeiros (canto inferior esquerdo).

Para outro dia, iremos sugerir outro tipo de doçaria também presente na gastronomia Terceirense, como é exemplo o Bolo Dona Amélia, as Caretas, os Camafeus.